Já
tivemos oportunidade de abordar aqui o crédito habitação, mais concretamente os
principais conceitos inerentes a este tema. Voltamos agora ao tema, mas numa
prespetiva diferente.
Quando
se pensa em sair de casa dos pais, um dos primeiros assuntos a tratar é a
habitação onde teremos de passar a morar. Esta é uma escolha importante dadas
as implicações que pode ter sobre o nosso futuro.
Durante
muitos anos, a única opção válida para a maioria era arrendar um apartamento,
normalmente pequeno, e posteriormente, com a melhoria rendimentos, mudava-se
para uma casa maior, normalmente ainda em regime de arrendamento, já que a
compra de casa, pelo menos nas grandes cidades era um privilégio de uma minoria.
Contudo,
nas últimas décadas e até muito recentemente, com as enormes facilidades na
concessão de crédito em geral, e em particular o direcionado para a aquisição
de habitação, as famílias foram por assim diazer “empurradas” para a compra da
habitação. Seguidamente este era vendido, ou entregue como permuta, e
adquiria-se então a casa dos nossos sonhos.
Hoje,
em dia, nota-se claramente um retrocesso, regressamos ao período anterior ao
facilitismo na concessão de crédito. Os Bancos são extremamente rigorosos na
análise aos pedidos de crédito e os spreads (margem de lucro do Banco)
associados, são superiores a 5%, pelo que a compra de habitação com recurso ao
crédito passou a ser um negócio muito difícil de concretizar. Curiosamente, na
atualidade, os Bancos até emprestam dinheiro mas… numa perspetiva de
arrendamento, para equipar e mobilar o apartamento e fazer face ao encargo
inicial com as rendas. Não aconselhamos este tipo de financiamento, na medida
em que quem não consegue reunir poupança que permita assumir os 2 meses de
renda inicialmente pedidos normalmente pelo senhorio, não terá certamente
condições a curto prazo para conseguir pagar uma renda, todas as despesas mensais
inerentes (água, luz, gás, condomínio, seguros, entre muitas outras) e ainda o
crédito contratado.
De
facto, em nossa opinião, o arrendamento é sem sombra de dúvida uma das melhores
opções em termos de acesso à habitação, já que o arrendatário não assume o
mesmo grau de obrigações que o comprador de uma habitação e sobretudo essas obrigações
não se prolongam no tempo com as consequências que têm no crédito à habitação.
Numa época de grande instabilidade económica, com alguma precariedade ao nível
do emprego e com uma redução significativa dos rendimentos dos agregados
familiares, decidir comprar casa é sempre uma decisão de grande risco que só se
deve tomar com um grau de informação elevado e com alguma certeza relativamente
ao cumprimento das obrigações, pelo menos no médio prazo. Paradoxalmente, esta
é uma época em que assistimos ao aparecimento de bons negócios em termos de
aquisição de casa, já que com a crise económica, existem muitos imóveis
disponíveis no mercado, aparecendo assim verdadeiras “pechinchas”. Caso esteja
mesmo decidido a comprar casa, tente que o crédito não tenha uma duração
superior a 30 anos, de modo a que termine antes de entrar na reforma, já que
este é um período da vida em que se assiste a uma redução dos rendimentos, pelo
que convém estar liberto dos encargos financeiros que um empréstimo bancário
normalmente comporta.