Crédito Habitação - II parte



Já tivemos oportunidade de abordar aqui o crédito habitação, mais concretamente os principais conceitos inerentes a este tema. Voltamos agora ao tema, mas numa prespetiva diferente.

Quando se pensa em sair de casa dos pais, um dos primeiros assuntos a tratar é a habitação onde teremos de passar a morar. Esta é uma escolha importante dadas as implicações que pode ter sobre o nosso futuro.


Durante muitos anos, a única opção válida para a maioria era arrendar um apartamento, normalmente pequeno, e posteriormente, com a melhoria rendimentos, mudava-se para uma casa maior, normalmente ainda em regime de arrendamento, já que a compra de casa, pelo menos nas grandes cidades era um privilégio de uma minoria.
Contudo, nas últimas décadas e até muito recentemente, com as enormes facilidades na concessão de crédito em geral, e em particular o direcionado para a aquisição de habitação, as famílias foram por assim diazer “empurradas” para a compra da habitação. Seguidamente este era vendido, ou entregue como permuta, e adquiria-se então a casa dos nossos sonhos.

Hoje, em dia, nota-se claramente um retrocesso, regressamos ao período anterior ao facilitismo na concessão de crédito. Os Bancos são extremamente rigorosos na análise aos pedidos de crédito e os spreads (margem de lucro do Banco) associados, são superiores a 5%, pelo que a compra de habitação com recurso ao crédito passou a ser um negócio muito difícil de concretizar. Curiosamente, na atualidade, os Bancos até emprestam dinheiro mas… numa perspetiva de arrendamento, para equipar e mobilar o apartamento e fazer face ao encargo inicial com as rendas. Não aconselhamos este tipo de financiamento, na medida em que quem não consegue reunir poupança que permita assumir os 2 meses de renda inicialmente pedidos normalmente pelo senhorio, não terá certamente condições a curto prazo para conseguir pagar uma renda, todas as despesas mensais inerentes (água, luz, gás, condomínio, seguros, entre muitas outras) e ainda o crédito contratado.
De facto, em nossa opinião, o arrendamento é sem sombra de dúvida uma das melhores opções em termos de acesso à habitação, já que o arrendatário não assume o mesmo grau de obrigações que o comprador de uma habitação e sobretudo essas obrigações não se prolongam no tempo com as consequências que têm no crédito à habitação. Numa época de grande instabilidade económica, com alguma precariedade ao nível do emprego e com uma redução significativa dos rendimentos dos agregados familiares, decidir comprar casa é sempre uma decisão de grande risco que só se deve tomar com um grau de informação elevado e com alguma certeza relativamente ao cumprimento das obrigações, pelo menos no médio prazo. Paradoxalmente, esta é uma época em que assistimos ao aparecimento de bons negócios em termos de aquisição de casa, já que com a crise económica, existem muitos imóveis disponíveis no mercado, aparecendo assim verdadeiras “pechinchas”. Caso esteja mesmo decidido a comprar casa, tente que o crédito não tenha uma duração superior a 30 anos, de modo a que termine antes de entrar na reforma, já que este é um período da vida em que se assiste a uma redução dos rendimentos, pelo que convém estar liberto dos encargos financeiros que um empréstimo bancário normalmente comporta.